Espíritos errantes
223 — A alma reencarna logo após se separar do corpo?
— Às vezes, sim; porém, em geral, isso ocorre apenas após intervalos mais ou menos longos. Nos mundos superiores, a reencarnação é quase sempre imediata. Como a matéria corporal nesses mundos é menos densa, o Espírito, quando encarnado ali, desfruta quase plenamente de suas faculdades espirituais, encontrando-se em um estado semelhante ao dos sonâmbulos lúcidos entre vocês.
224 — O que é a alma durante o intervalo entre as encarnações?
— É um Espírito errante, que aspira a um novo destino e permanece em expectativa.
— Quanto tempo podem durar esses intervalos?
— Desde algumas horas até milhares de séculos. Em termos absolutos, não existe um limite máximo fixo para o estado de erraticidade. Ele pode prolongar-se por muito tempo, mas nunca é eterno. Mais cedo ou mais tarde, o Espírito precisará retornar a uma existência adequada para se purificar das imperfeições de suas vidas anteriores.
— Essa duração depende da vontade do Espírito ou pode ser imposta como expiação?
— É consequência do livre-arbítrio. Os Espíritos sabem perfeitamente o que fazem. Para alguns, no entanto, esse estado constitui uma punição permitida por Deus. Outros pedem que ele se prolongue, a fim de continuar estudos que só podem ser realizados com proveito no estado de Espírito livre.
225 — A erraticidade é, por si só, sinal de inferioridade espiritual?
— Não, pois existem Espíritos errantes em todos os graus de evolução. A encarnação é um estado transitório; o estado normal do Espírito é o de liberdade em relação à matéria.
226 — Pode-se dizer que todos os Espíritos não encarnados são errantes?
— Sim, no caso daqueles que ainda precisam reencarnar. Não são errantes os Espíritos puros, que alcançaram a perfeição e se encontram em seu estado definitivo.
Quanto às qualidades íntimas, os Espíritos pertencem a diferentes ordens ou graus, pelos quais passam sucessivamente à medida que se purificam. Quanto ao estado em que se encontram, podem ser:
- Encarnados: Quando ligados a um corpo material;
- Errantes: Quando estão sem corpo e aguardam nova encarnação para progredir;
- Espíritos puros: Quando atingiram a perfeição e não necessitam mais encarnar.
Entre os Espíritos não encarnados, há os que desempenham missões e se dedicam a atividades úteis, gozando de relativa felicidade. Outros permanecem em incerteza e instabilidade; são estes que constituem, propriamente, os Espíritos errantes, no sentido mais restrito do termo, frequentemente chamados de “almas a penar”. Os primeiros nem sempre se consideram errantes, pois distinguem sua condição da dos segundos.
227 — De que forma os Espíritos errantes se instruem? Certamente não como nós.
— Eles estudam o próprio passado e buscam meios de se elevar. Observam o que acontece nos lugares por onde passam, ouvem os ensinamentos dos homens esclarecidos e os conselhos dos Espíritos mais elevados. Tudo isso desperta neles ideias que antes não possuíam.
228 — Os Espíritos conservam algumas das paixões humanas?
— Ao perder o corpo, os Espíritos elevados se libertam das paixões inferiores e conservam apenas o desejo do bem. Os Espíritos inferiores, porém, ainda as mantêm; caso contrário, já pertenceriam à primeira ordem.
229 — Por que, ao deixarem a Terra, os Espíritos não abandonam imediatamente todas as más paixões, se reconhecem seus prejuízos?
— Observa neste mundo pessoas dominadas pela inveja ou pelo orgulho. Acreditas que, ao deixarem a Terra, perdem instantaneamente esses defeitos? Após a morte, sobretudo nos que cultivaram paixões intensas, permanece uma espécie de atmosfera que os envolve e conserva suas imperfeições, porque o Espírito ainda não se libertou totalmente da matéria. Apenas por momentos ele vislumbra a verdade, como se esta lhe fosse mostrada para indicar o caminho correto.
230 — O Espírito progride durante a erraticidade?
— Pode progredir muito, desde que tenha vontade e desejo sincero de fazê-lo. No entanto, é na vida corporal que ele coloca em prática as ideias novas que adquiriu.
231 — Os Espíritos errantes são felizes ou infelizes?
— São mais ou menos felizes, conforme seus méritos. Sofrem em razão das paixões que ainda conservam ou são felizes de acordo com o grau de desmaterialização que já alcançaram. Na erraticidade, o Espírito percebe claramente o que ainda lhe falta para ser plenamente feliz e busca os meios de consegui-lo. Nem sempre, porém, lhe é permitido reencarnar segundo sua própria vontade, o que pode representar uma punição.
232 — Os Espíritos errantes podem ir a todos os mundos?
— Depende. O simples fato de ter deixado o corpo não significa que o Espírito esteja completamente desprendido da matéria. Ele geralmente permanece ligado ao mundo onde viveu por último ou a outro de grau semelhante, a menos que, durante a vida, tenha se elevado moralmente, o que constitui o objetivo essencial de seus esforços. Caso contrário, não haveria progresso. Pode, no entanto, visitar alguns mundos superiores, mas apenas como observador, tendo deles uma visão parcial, o que desperta o desejo de se melhorar para um dia habitá-los.
233 — Os Espíritos já purificados visitam mundos inferiores?
— Frequentemente, com a finalidade de auxiliar seu progresso. Se assim não fosse, esses mundos ficariam abandonados, sem guias que os orientassem.
Mundos transitórios
234 — Existem, de fato, mundos que servem como estações ou pontos de repouso para os Espíritos errantes?
— Sim. Há mundos especialmente destinados a Espíritos errantes, que funcionam como habitações temporárias, verdadeiros campos de descanso após longos períodos de erraticidade, que é sempre um estado um tanto penoso. Esses mundos ocupam posições intermediárias entre outros, graduadas conforme a natureza dos Espíritos que podem acessá-los, oferecendo maior ou menor bem-estar.
— Os Espíritos que habitam esses mundos podem deixá-los livremente?
— Sim. Eles podem partir quando precisam seguir para outros destinos. Imaginai bandos de aves que pousam em uma ilha para recuperar forças antes de continuar a viagem.
235 — Enquanto permanecem nesses mundos transitórios, os Espíritos continuam progredindo?
— Certamente. Os que ali chegam o fazem com o objetivo de se instruir e obter mais facilmente permissão para alcançar mundos melhores e, enfim, a posição reservada aos Espíritos elevados.
236 — Esses mundos permanecem para sempre destinados aos Espíritos errantes?
— Não. Sua condição é apenas temporária.
— Esses mundos são habitados por seres corpóreos?
— Não. Sua superfície é estéril, e os que ali vivem não têm necessidades materiais.
— Essa esterilidade é permanente?
— Não. É transitória.
— Esses mundos não possuem belezas naturais?
— A natureza ali reflete as belezas da imensidão, tão admiráveis quanto aquelas que vocês chamam de belezas naturais.
— A Terra já pertenceu a essa categoria de mundos?
— Sim.
— Em que época?
— Durante sua formação.
Nada é inútil na natureza; tudo tem um propósito. Não existe vazio: em toda parte há vida. Durante os longos períodos que precederam o aparecimento do ser humano na Terra, enquanto ela ainda era uma massa informe, caótica e estéril para a vida material, não havia ausência de vida espiritual. Seres livres de nossas necessidades físicas ali encontravam abrigo. Deus quis que, mesmo imperfeita, a Terra tivesse uma função. Quem poderia afirmar que, entre os inúmeros mundos do universo, apenas um tivesse o privilégio exclusivo de ser habitado? Tal ideia seria incompatível com a sabedoria divina.
Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos
237 — Ao retornar ao mundo espiritual, a alma conserva as percepções da vida corporal?
— Sim, e ainda adquire outras, pois o corpo funcionava como um véu que as obscurecia. A inteligência é atributo do Espírito e se manifesta com maior liberdade quando não há entraves materiais.
238 — O conhecimento e as percepções dos Espíritos são ilimitados?
— Quanto mais se aproximam da perfeição, mais sabem. Os Espíritos superiores possuem vasto conhecimento; os inferiores são mais ou menos ignorantes em muitos aspectos.
239 — Os Espíritos conhecem o princípio de todas as coisas?
— Isso depende do grau de elevação que alcançaram. Os inferiores não sabem mais do que os seres humanos.
240 — Os Espíritos compreendem o tempo como nós?
— Não. É por isso que, muitas vezes, não nos compreendem quando falamos de datas ou épocas.
Os Espíritos vivem fora da noção de tempo tal como a conhecemos. Para eles, a duração quase deixa de existir. Séculos, para nós tão longos, lhes parecem instantes perdidos na eternidade.
241 — Os Espíritos têm uma noção mais justa do presente do que nós?
— Sim, assim como quem enxerga bem compreende melhor do que quem é cego. Eles veem o que vocês não veem e, por isso, julgam as coisas de forma diferente. Isso, porém, também depende do grau de elevação.
242 — Como os Espíritos conhecem o passado? Esse conhecimento é ilimitado?
— Quando se ocupam do passado, ele se apresenta como o presente, assim como ocorre com vocês ao recordar algo marcante. Sem o véu material, a memória espiritual é mais ampla. Ainda assim, os Espíritos não sabem tudo, a começar pela própria origem.
243 — E quanto ao futuro, os Espíritos o conhecem?
— Depende de sua elevação. Muitas vezes apenas o pressentem, e nem sempre podem revelá-lo. Quando o percebem, ele lhes parece presente. Quanto mais próximos de Deus, mais claramente o veem. Após a morte, a alma percebe suas existências passadas, mas o futuro permanece velado, salvo àqueles que já se integraram profundamente às leis divinas.
— Os Espíritos puros conhecem completamente o futuro?
— Não completamente, pois apenas Deus possui esse conhecimento absoluto.
244 — Os Espíritos veem a Deus?
— Apenas os Espíritos superiores o veem e compreendem. Os inferiores o sentem e intuem sua existência.
— Quando um Espírito inferior afirma que Deus lhe permite ou proíbe algo, como sabe disso?
— Ele não vê Deus, mas percebe sua soberania por intuição, como um aviso interior. Algo semelhante ocorre com vocês quando sentem um pressentimento.
— Deus se comunica diretamente com os Espíritos?
— Não diretamente. Para se comunicar com Deus, é necessário ser digno disso. As ordens divinas chegam por intermédio de Espíritos superiores.
245 — A visão dos Espíritos é limitada como a dos seres humanos?
— Não. A visão reside no próprio Espírito.
246 — Os Espíritos precisam de luz para enxergar?
— Não. Eles veem por si mesmos; para eles não há trevas, exceto aquelas impostas como expiação.
247 — Para ver em dois lugares diferentes, o Espírito precisa se deslocar?
— O Espírito se desloca com a rapidez do pensamento. Pode-se dizer que vê em toda parte ao mesmo tempo, embora essa faculdade dependa de sua pureza.
248 — O Espírito vê as coisas com a mesma nitidez que nós?
— Vê com muito mais clareza, pois nada lhe obscurece a percepção.
249 — Os Espíritos percebem sons?
— Sim, inclusive sons imperceptíveis aos sentidos humanos.
— A audição, assim como a visão, reside em todo o Espírito?
— Sim. Todas as percepções são atributos do Espírito. Quando encarnado, elas se manifestam por meio dos órgãos; quando livre, não estão localizadas.
250 — Os Espíritos podem se esquivar das percepções?
— Em geral, o Espírito vê e ouve o que deseja. Contudo, os Espíritos imperfeitos muitas vezes percebem coisas contra a própria vontade, quando isso lhes é útil ao progresso.
251 — Os Espíritos são sensíveis à música?
— A música de vocês é insignificante comparada à harmonia espiritual. Ainda assim, Espíritos menos elevados podem sentir prazer com a música terrestre. A música espiritual é de uma beleza que a imaginação humana não consegue conceber.
252 — Os Espíritos apreciam as belezas naturais?
— Sim, conforme sua capacidade de compreendê-las. Nos Espíritos elevados, as belezas gerais superam as particularidades.
253 — Os Espíritos sentem nossas necessidades e sofrimentos físicos?
— Eles os conhecem, pois já os experimentaram, mas não os sentem materialmente.
254 — Os Espíritos sentem fadiga ou necessidade de repouso?
— Não como vocês. Eles não se cansam fisicamente, pois não possuem órgãos. O repouso do Espírito é a diminuição da atividade mental, não a inatividade absoluta.
255 — Quando um Espírito diz que sofre, de que natureza é esse sofrimento?
— Sofrimentos morais, mais dolorosos do que os físicos.
256 — Por que alguns Espíritos afirmam sentir frio ou calor?
— São reminiscências da vida corporal. Muitas vezes, trata-se apenas de uma forma simbólica de expressar seu estado moral.
Ensaio teórico da sensação dos Espíritos
257
O corpo é o instrumento da dor. Se não é sua causa primeira, é ao menos sua causa imediata. A alma percebe a dor: essa percepção é o efeito. A lembrança da dor pode ser muito penosa, mas não produz ação física. De fato, nem o frio nem o calor podem desorganizar a alma, que não pode congelar nem queimar. Não vemos todos os dias a lembrança ou o medo de um mal físico produzirem efeitos reais, chegando às vezes à morte? É sabido que pessoas amputadas sentem dor em membros que já não existem. Evidentemente, a dor não está no membro, mas na impressão conservada no cérebro. É razoável, portanto, admitir que algo semelhante ocorra nos sofrimentos do Espírito após a morte.
O estudo do perispírito — que desempenha papel fundamental em todos os fenômenos espíritas, nas aparições vaporosas ou tangíveis, no estado do Espírito no momento da morte, na ideia frequente de ainda estar vivo, nas situações comoventes dos suicidas, dos executados e daqueles que se entregaram excessivamente aos prazeres materiais — lançou luz sobre essa questão e permitiu as explicações que seguem.
O perispírito é o elo que une o Espírito ao corpo. Ele é formado a partir do meio ambiente, do fluido universal. Participa, ao mesmo tempo, da eletricidade, do magnetismo e, em certo grau, da matéria inerte. Pode-se dizer que é a quintessência da matéria. Ele é o princípio da vida orgânica, mas não da vida intelectual, que pertence ao Espírito. É também o agente das sensações exteriores. No corpo, os órgãos funcionam como condutores e localizam essas sensações. Destruído o corpo, as sensações tornam-se gerais. Por isso, o Espírito não diz que sofre mais na cabeça do que nos pés.
Não se deve confundir as sensações do perispírito, agora independente, com as sensações do corpo. Estas só podem ser tomadas como termo de comparação, não como equivalentes. Libertos do corpo, os Espíritos podem sofrer, mas esse sofrimento não é físico, embora também não seja apenas moral, como o remorso, pois eles relatam sensações de frio e calor. No entanto, não sofrem mais no inverno do que no verão, nem sentem dor ao atravessar chamas. A dor que experimentam não é propriamente física: trata-se de uma sensação íntima, difusa, que o próprio Espírito muitas vezes não compreende bem, porque não é localizada nem causada por agentes externos. É, na maioria das vezes, uma reminiscência, ainda que muito penosa. Em certos casos, porém, há algo mais, como veremos.
A experiência mostra que, no momento da morte, o perispírito se desprende do corpo de forma mais ou menos lenta. Nos primeiros instantes após a desencarnação, o Espírito não compreende plenamente sua situação. Ele acredita não estar morto, pois se sente vivo; vê o corpo ao seu lado, reconhece-o como seu, mas não entende que está separado dele. Esse estado persiste enquanto houver algum vínculo entre o corpo e o perispírito.
Certa vez, um suicida afirmou: — Não, não estou morto. E acrescentou: — No entanto, sinto os vermes me roendo.
Evidentemente, os vermes não roíam o perispírito nem o Espírito, mas apenas o corpo. Contudo, como a separação ainda não era completa, produzia-se uma espécie de repercussão moral, transmitindo ao Espírito a impressão do que ocorria no corpo. Não se trata exatamente de uma repercussão material, mas da percepção do que acontecia ao corpo, ao qual o perispírito ainda estava ligado, gerando uma ilusão tomada como realidade. Nesse caso, não era uma lembrança, pois o Espírito não havia passado por isso em vida; era a sensação de um fato presente.
Durante a vida, o corpo recebe impressões externas e as transmite ao Espírito por meio do perispírito, que pode ser comparado ao fluido nervoso. Após a morte, o corpo já não sente nada, pois não há mais Espírito nem perispírito ligados a ele. O perispírito, separado do corpo, experimenta a sensação, mas como já não há um conduto localizado, ela se torna geral. Sendo o perispírito apenas o agente de transmissão, e estando a consciência no Espírito, conclui-se que, se houvesse perispírito sem Espírito, não haveria sensação alguma, assim como ocorre com um corpo morto. Do mesmo modo, se o Espírito não tivesse perispírito, seria inacessível a qualquer sensação dolorosa. É isso que acontece com os Espíritos completamente purificados.
À medida que o Espírito se purifica, o perispírito se torna mais etéreo, e a influência da matéria diminui. Quanto mais o Espírito progride, menos grosseiro se torna seu envoltório e menos intensas são as sensações dolorosas.
Pode-se objetar que, se o perispírito transmite tanto sensações agradáveis quanto desagradáveis, o Espírito puro deveria ser insensível a ambas. Isso é verdadeiro no que diz respeito às impressões provenientes da matéria que conhecemos. Os sons dos nossos instrumentos e os perfumes das nossas flores não lhe causam impressão. No entanto, ele experimenta sensações íntimas de uma harmonia e beleza indescritíveis, das quais não podemos formar ideia, assim como um cego de nascença não pode conceber a luz.
Sabemos que o Espírito percebe, sente, vê e ouve, e que essas faculdades são atributos do ser inteiro, e não de partes específicas, como no corpo humano. O modo como essas percepções ocorrem nos escapa, pois nossa linguagem não dispõe de meios para expressar ideias que não possuímos.
O perispírito, retirado do meio ambiente, varia conforme a natureza dos mundos. Ao passar de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, assim como mudamos de roupa ao passar do frio ao calor. Quando Espíritos elevados vêm visitar a Terra, revestem-se do perispírito terrestre e, então, suas percepções se manifestam como as dos Espíritos comuns deste mundo. Todos os Espíritos, porém, só percebem aquilo que desejam perceber, exceto os conselhos dos Espíritos bons, que são obrigados a ouvir.
A visão do Espírito é sempre ativa, embora ele possa tornar-se invisível a outros Espíritos, conforme sua categoria. Nos primeiros instantes após a morte, a visão espiritual é confusa e vai se esclarecendo à medida que o desprendimento se completa. A extensão dessa visão — no espaço, no passado e no futuro — depende do grau de elevação do Espírito.
Pode parecer inquietante saber que o Espírito ainda possa sofrer após a morte. Contudo, também é possível deixar de sofrer, inclusive desde o instante em que termina a vida corporal. Muitos sofrimentos da vida física são consequência direta das paixões humanas. Quem vive com sobriedade, moderação e desapego evita inúmeras tribulações. O mesmo ocorre com o Espírito: seus sofrimentos guardam relação direta com a maneira como viveu.
Quanto mais o Espírito se liberta da influência da matéria ainda durante a vida, menos sofrerá após a morte. Está em suas mãos realizar esse desprendimento: dominar paixões, evitar o ódio, a inveja, o orgulho e o egoísmo; cultivar sentimentos elevados; praticar o bem e relativizar a importância das coisas materiais. Assim, mesmo encarnado, já estará parcialmente livre da matéria, e, ao deixá-la, não sofrerá sua influência.
O estudo de inúmeros Espíritos, de todas as classes e condições, mostrou sempre que seus sofrimentos após a morte correspondiam à conduta que tiveram na vida. A outra vida é fonte de felicidade profunda para os que seguiram o bem. Logo, se alguém sofre, isso acontece como consequência de suas próprias escolhas. Ninguém deve queixar-se senão de si mesmo, neste mundo ou no outro.
Escolha de provas
258 — Quando está na erraticidade, antes de iniciar uma nova existência corporal, o Espírito tem consciência e previsão do que lhe acontecerá na vida terrena?
— Ele próprio escolhe o tipo de provas pelas quais passará; nisso consiste o seu livre-arbítrio.
— Então não é Deus quem impõe as tribulações da vida como castigo?
— Nada acontece sem a permissão de Deus, pois foi Ele quem estabeleceu as leis que regem o universo. Ao conceder ao Espírito a liberdade de escolha, Deus lhe atribui a responsabilidade por seus atos e pelas consequências deles. Nada lhe bloqueia o futuro: tanto o caminho do bem quanto o do mal estão abertos.
Se o Espírito fracassa, resta-lhe a consolação de que nada está perdido, pois a bondade divina lhe permite recomeçar. Cabe distinguir o que resulta da vontade divina e o que decorre da vontade humana. Um perigo pode existir por lei natural, mas a decisão de se expor a ele pertence ao Espírito.
259 — Do fato de o Espírito escolher suas provas, segue-se que todas as tribulações da vida foram previstas e escolhidas por ele?
— Não todas. Escolhe-se o gênero de prova, não os detalhes. Estes resultam das circunstâncias e das próprias ações. Ao escolher nascer em determinado meio, o Espírito sabe a que tipo de desafios estará exposto, mas não prevê cada acontecimento específico.
260 — Como pode o Espírito desejar nascer entre pessoas de má conduta?
— Para encontrar o ambiente adequado à prova que pediu. Para lutar contra certos vícios, é necessário estar em contato com eles.
261 — O Espírito precisa passar por todas as tentações para atingir a perfeição?
— Não. Cada Espírito enfrenta as provas necessárias ao seu progresso, conforme suas fraquezas. Quem se afasta do mal evita muitos perigos.
262 — Como um Espírito simples e inexperiente pode escolher provas adequadas?
— Deus supre sua inexperiência, orientando-o, como se faz com uma criança. À medida que o livre-arbítrio se desenvolve, o Espírito assume maior responsabilidade por suas escolhas.
263 — O Espírito pode ser obrigado a aceitar determinada existência?
— Deus não apressa a expiação, mas pode impor uma existência quando o Espírito, por sua inferioridade, não compreende o que lhe seria mais benéfico.
264 — O que orienta o Espírito na escolha de suas provas?
— A natureza de suas faltas e o desejo de progredir mais rapidamente.
265 — Há Espíritos que escolhem o contato com o vício por afinidade?
— Sim, entre os que ainda têm senso moral pouco desenvolvido. Sofrem por mais tempo até compreenderem as consequências de suas escolhas.
266 — Por que o Espírito não escolhe sempre as provas menos dolorosas?
— Porque, fora da matéria, ele avalia as provas de modo diferente. Vê nelas um meio rápido de alcançar a felicidade duradoura, assim como um doente aceita um remédio amargo para se curar.
267 — O Espírito pode influenciar a escolha de provas ainda encarnado?
— Pode, pelo desejo sincero de melhorar. Contudo, como Espírito livre, muitas vezes enxerga as coisas de modo diferente.
268 — Mesmo após certo grau de elevação, o Espírito ainda passa por provas?
— Sim, mas não como sofrimentos materiais. São deveres e responsabilidades que contribuem para seu aperfeiçoamento.
269 — O Espírito pode enganar-se na escolha das provas?
— Pode. Nesse caso, reconhece o erro e pede novas oportunidades.
270 — As vocações humanas decorrem dessas escolhas anteriores?
— Sim. São consequência do progresso realizado em vidas passadas.
271 — Como um Espírito imagina progredir ao nascer entre povos primitivos?
— Espíritos mais adiantados não nascem nesses meios. Para Espíritos ainda inferiores, tal nascimento representa progresso.
272 — Espíritos de mundos inferiores podem nascer entre povos civilizados?
— Podem, mas muitas vezes se sentem deslocados, pois seus instintos entram em conflito com o meio.
273 — Um homem civilizado pode reencarnar entre povos primitivos como expiação?
— Pode, conforme a natureza da falta. Também pode ser missão, quando um Espírito elevado busca auxiliar o progresso desses povos.
As relações no além-túmulo
274 — Há hierarquia entre os Espíritos?
— Sim. A autoridade decorre da superioridade moral.
275 — O poder terreno confere superioridade espiritual?
— Não. A verdadeira grandeza é a moral.
276 — O Espírito orgulhoso sofre ao reconhecer sua inferioridade após a morte?
— Muitas vezes, sofre intensamente.
277 — Títulos e posições mantêm valor no mundo espiritual?
— Não. Apenas o mérito real conta.
278 — Os Espíritos convivem entre si?
— Sim, agrupam-se por afinidade, sem se confundir.
279 — Todos os Espíritos têm acesso a todos os grupos?
— Os bons podem ir a toda parte; os inferiores não têm acesso às regiões elevadas.
280 — Qual é a relação entre bons e maus Espíritos?
— Os bons buscam auxiliar os maus a progredirem.
281 — Por que Espíritos inferiores tentam induzir os encarnados ao mal?
— Por despeito e desejo de impedir o progresso alheio.
282 — Como os Espíritos se comunicam?
— Pela transmissão direta do pensamento, por meio do fluido universal.
283 — Podem ocultar seus pensamentos?
— Em geral, não. A transparência aumenta conforme a elevação.
284 — Como se reconhecem individualmente?
— Pelo perispírito, que os distingue.
285 — Reconhecem parentes e amigos?
— Sim, com plena clareza.
286 — O reencontro é imediato?
— Nem sempre; depende do estado do Espírito.
287 — Como é acolhida a alma ao retornar ao mundo espiritual?
— A do justo é acolhida com alegria; a do mau, com indiferença ou isolamento.
288 — Espíritos maus sentem satisfação ao encontrar outros semelhantes?
— Sim, como ocorre entre pessoas de mesma índole na Terra.
289 — Parentes e amigos costumam vir ao encontro do desencarnado?
— Sim, quando há afinidade e merecimento.
290 — As famílias permanecem unidas para sempre?
— Apenas quando caminham juntas no progresso. Caso contrário, reencontram-se apenas ocasionalmente.
Relações de simpatia e antipatia entre os Espíritos. Metades eternas
291 — Além da simpatia geral, decorrente da semelhança entre eles, os Espíritos desenvolvem afeições particulares?
— Assim como os seres humanos. Porém, o laço que une os Espíritos é mais forte quando estão livres do corpo material, pois não fica sujeito às instabilidades das paixões.
292 — Os Espíritos sentem ódio uns pelos outros?
— Apenas os Espíritos impuros sentem ódio. São eles que insuflam nos seres humanos as inimizades e discórdias.
293 — Dois seres que foram inimigos na Terra conservam ressentimento um pelo outro no mundo espiritual?
— Não. Eles compreendem que o ódio era absurdo e que os motivos que o geraram eram infantis. Apenas os Espíritos imperfeitos conservam certa animosidade, até que se purifiquem. Se o conflito teve origem apenas em interesses materiais, isso deixa de ter importância, desde que estejam minimamente desprendidos da matéria. Não havendo mais antipatia e desaparecida a causa da discórdia, aproximam-se com satisfação.
Ocorre como entre dois colegas que, ao atingirem a maturidade, reconhecem a futilidade das brigas da infância e deixam de se hostilizar.
294 — A lembrança dos atos maus praticados por duas pessoas uma contra a outra impede que exista simpatia entre elas?
— Essa lembrança tende a afastá-las.
295 — Que sentimento nutrem, após a morte, aqueles a quem fizemos mal na vida terrena?
— Se forem bons, perdoam conforme o arrependimento demonstrado. Se forem maus, podem guardar ressentimento e até perseguir aquele que os prejudicou, por vezes em outra existência. Deus pode permitir isso como forma de aprendizado.
296 — As afeições individuais entre Espíritos podem se alterar?
— Não, pois eles não se enganam. Não usam máscaras como os hipócritas. Por isso, quando são puros, suas afeições são estáveis e duradouras. A felicidade suprema decorre do amor que os une.
297 — A afeição mútua que dois seres tiveram na Terra continua a existir no mundo espiritual?
— Sim, desde que tenha se originado de verdadeira simpatia. Se, porém, nasceu principalmente de causas físicas, desaparece com elas. As afeições entre Espíritos são mais sólidas e duráveis do que na Terra, pois não dependem de interesses materiais nem do orgulho.
298 — As almas que devem se unir estão predestinadas desde a origem, e cada pessoa tem em algum lugar do universo sua “metade”, à qual fatalmente se reunirá?
— Não. Não existe união particular e fatal entre duas almas. A união verdadeira é a de todos os Espíritos entre si, em diferentes graus, conforme o nível de perfeição alcançado. Quanto mais elevados, mais unidos. Da discórdia nascem os males humanos; da concórdia resulta a felicidade plena.
299 — Em que sentido se deve entender a palavra “metade”, usada por alguns Espíritos para designar Espíritos simpáticos?
— Trata-se de uma expressão inexata. Se um Espírito fosse metade de outro, separados estariam ambos incompletos.
300 — Se dois Espíritos perfeitamente simpáticos se unem, permanecerão juntos para sempre ou podem se separar e unir-se a outros?
— Todos os Espíritos estão interligados. Refiro-me aqui aos que alcançaram a perfeição. Nas esferas inferiores, quando um Espírito progride, deixa de simpatizar, como antes, com os que permanecem em níveis mais baixos.
301 — Dois Espíritos simpáticos se completam mutuamente, ou essa simpatia resulta de identidade perfeita?
— A simpatia surge da perfeita concordância de tendências e instintos. Se um tivesse de completar o outro, perderia sua individualidade.
302 — A identidade necessária para a simpatia perfeita consiste apenas na afinidade de pensamentos e sentimentos, ou também na igualdade de conhecimentos?
— Na igualdade dos graus de elevação.
303 — Espíritos que hoje não são simpáticos podem vir a sê-lo no futuro?
— Todos acabarão sendo. Um Espírito que hoje está em esfera inferior ascenderá, pelo progresso, àquela onde se encontra outro Espírito. O reencontro pode ocorrer mais rapidamente se o mais elevado, ao enfrentar provas difíceis, permanecer estacionado.
— Dois Espíritos que hoje são simpáticos podem deixar de sê-lo?
— Sim, se um deles se mostrar negligente em seu progresso.
A chamada teoria das “metades eternas” é apenas uma figura de linguagem, representando a afinidade entre Espíritos simpáticos. Não deve ser tomada literalmente. Os Espíritos que utilizaram essa expressão não pertencem às ordens mais elevadas e recorreram a termos da linguagem humana para se fazer compreender. Não existem Espíritos criados exclusivamente uns para os outros, destinados a se reunirem fatalmente na eternidade após longas separações.
Recordação da existência corporal
304 — O Espírito se lembra de sua existência corporal?
— Sim. Tendo vivido muitas vezes na Terra, lembra-se do que foi como ser humano e, muitas vezes, observa a si mesmo com certo pesar, reconhecendo suas próprias tolices.
Assim como o adulto ri das imprudências da juventude ou das ingenuidades da infância.
305 — A lembrança da vida corporal surge de forma imediata e completa após a morte?
— Não. Ela retorna gradualmente, como uma imagem que emerge da névoa, à medida que o Espírito dirige sua atenção a ela.
306 — O Espírito se recorda detalhadamente de todos os acontecimentos de sua vida?
— Recorda-se conforme a influência que esses fatos tiveram sobre seu estado atual como Espírito. Muitas circunstâncias às quais deu pouca importância na vida não merecem sua atenção depois.
— Se quisesse, poderia lembrar-se de todos os detalhes?
— Sim, inclusive dos pensamentos mais íntimos, quando isso lhe for útil.
— O Espírito compreende melhor o objetivo da vida terrena após a morte?
— Compreende com muito mais clareza. Entende a necessidade da purificação para alcançar o infinito e percebe que, a cada existência, deixa para trás algumas imperfeições.
307 — De que forma a vida passada se apresenta à memória do Espírito?
— Ora como lembrança evocada pela vontade, ora como um quadro que se impõe à visão. Tudo depende do grau de desmaterialização. Quanto mais elevado, menos importância dá às coisas materiais.
Por isso, Espíritos recém-desencarnados muitas vezes não se lembram de nomes ou detalhes que eram importantes para os vivos, pois essas coisas já perderam relevância. O que permanece claro são os fatos que contribuíram para seu progresso.
308 — O Espírito se recorda de todas as existências anteriores?
— Seu passado se desenrola diante dele como um caminho percorrido. Contudo, não se lembra de tudo com igual nitidez. As primeiras existências, comparáveis à infância do Espírito, tornam-se vagas e se perdem no esquecimento.
309 — Como o Espírito vê o corpo de que se separou?
— Como uma veste incômoda, sentindo-se aliviado por estar livre dela.
— O que sente ao ver seu corpo em decomposição?
— Em geral, indiferença, como diante de algo que já não lhe diz respeito.
310 — Com o tempo, o Espírito reconhece ossos ou objetos que lhe pertenceram?
— Às vezes, dependendo do grau de elevação com que observa as coisas terrenas.
311 — O respeito prestado aos objetos que lhe pertenceram agrada ao Espírito?
— O que o toca é o pensamento afetuoso de quem se lembra dele, não os objetos em si.
312 — O Espírito conserva a lembrança dos sofrimentos da última existência?
— Frequentemente, sim. Essa lembrança o ajuda a compreender melhor o valor da felicidade espiritual.
313 — Aquele que foi feliz na Terra sente saudade dos prazeres materiais?
— Apenas os Espíritos inferiores sentem falta desses prazeres, compatíveis com sua natureza ainda impura. Os Espíritos elevados preferem infinitamente a felicidade espiritual.
Assim como o adulto não sente falta dos brinquedos da infância.
314 — Quem iniciou trabalhos importantes e os viu interrompidos pela morte lamenta isso no além?
— Não. Ele vê que outros os continuarão e procura influenciar os encarnados para que deem prosseguimento ao bem iniciado.
315 — O Espírito mantém apego às obras artísticas ou literárias que produziu?
— Conforme sua elevação. Muitas vezes passa a julgá-las com mais rigor do que quando estava encarnado.
316 — O Espírito se interessa pelo progresso das artes e das ciências na Terra?
— Sim, conforme sua elevação ou missão. O que para os humanos parece grandioso pode ser apenas um exercício inicial aos olhos de Espíritos mais avançados.
317 — O Espírito conserva o amor à pátria?
— Para os Espíritos elevados, a pátria é o universo. Na Terra, sentem-se ligados aos lugares onde estão os Espíritos com os quais têm maior afinidade.
Os Espíritos mais elevados permanecem pouco tempo ligados à Terra, a menos que estejam em missão. Os Espíritos intermediários ainda frequentam este mundo com certa regularidade. Já os Espíritos comuns formam a maior parte da população espiritual terrestre, conservando gostos, hábitos e inclinações semelhantes aos que tinham quando encarnados. Muitos participam indiretamente das atividades humanas, incentivando paixões ou observando para aprender.
318 — As ideias do Espírito se modificam durante a erraticidade?
— Sim, profundamente. À medida que se desmaterializa, passa a ver as coisas com maior clareza e busca meios de se aprimorar.
319 — Por que o Espírito se espanta ao retornar ao mundo espiritual, se já viveu nele antes?
— Isso se deve à perturbação inicial após a morte. Com o tempo, a lembrança do passado retorna e a impressão da vida terrena se dissipa.
Comemoração dos mortos. Funerais
320 — O fato de os vivos se lembrarem dos mortos sensibiliza os Espíritos?
— Muito mais do que imaginais. Para os felizes, isso aumenta a felicidade; para os que sofrem, é um alívio.
321 — O dia da comemoração dos mortos é especial para os Espíritos?
— Eles atendem ao chamado dos pensamentos nesse dia, como em qualquer outro.
— Eles se reúnem nos cemitérios?
— Em maior número, sim, pois há mais pessoas que os evocam mentalmente. Contudo, cada Espírito vai apenas ao encontro dos que lhe são ligados.
322 — E os Espíritos esquecidos, cujos túmulos ninguém visita?
— Pouco lhes importa a Terra. O que os liga a ela é o afeto, não o local físico.
323 — A visita a um túmulo agrada mais ao Espírito do que a prece feita em casa?
— O que importa é o pensamento sincero. O lugar é irrelevante.
324 — Espíritos homenageados com monumentos ou estátuas assistem a essas solenidades?
— Muitos assistem, quando podem, mas valorizam mais a lembrança afetiva do que as homenagens materiais.
325 — O desejo de ser enterrado em determinado lugar indica inferioridade espiritual?
— Pode refletir apego material. Para Espíritos elevados, o local não tem importância.
— Reunir os restos mortais da família é futilidade?
— Não. É um costume piedoso que conforta os vivos, embora seja indiferente aos Espíritos.
326 — As honras prestadas ao corpo após a morte afetam o Espírito?
— Espíritos elevados compreendem a futilidade disso. Espíritos ainda ligados à matéria podem sentir prazer ou desgosto, conforme conservem vaidades terrenas.
327 — O Espírito assiste ao próprio enterro?
— Frequentemente, sim, salvo se ainda estiver em perturbação.
328 — O Espírito assiste à reunião dos herdeiros?
— Muitas vezes. Isso pode servir de aprendizado ou correção moral.
329 — O respeito instintivo que os seres humanos têm pelos mortos decorre da intuição da vida futura?
— Sim. Sem essa intuição, tal respeito não teria razão de existir.