A reencarnação
166 — Como a alma que não alcançou a perfeição durante a vida corporal pode continuar seu aperfeiçoamento?
— Vivendo a prova de uma nova existência.
— Como se dá essa nova existência? Ocorre por uma transformação enquanto Espírito?
— Ao se aperfeiçoar, a alma passa, de fato, por uma transformação. Mas, para isso, é necessária a prova da vida corporal.
— A alma passa, então, por muitas existências corporais?
— Sim, todos passamos por muitas existências. Aqueles que afirmam o contrário desejam manter vocês na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse é o objetivo deles.
— Esse princípio implica que a alma, após deixar um corpo, assume outro, ou seja, reencarna em um novo corpo?
— Evidentemente.
167 — Qual é o objetivo da reencarnação?
— Expiação e progresso da humanidade. Sem isso, onde estaria a justiça?
168 — O número de existências corporais é limitado ou o Espírito reencarna indefinidamente?
— A cada nova existência, o Espírito dá mais um passo no caminho do progresso. Quando se livra de todas as impurezas, não precisa mais das provas da vida corporal.
169 — O número de encarnações é o mesmo para todos os Espíritos?
— Não. Aquele que avança mais rapidamente se submete a menos provas. Ainda assim, as encarnações sucessivas são sempre numerosas, pois o progresso é quase infinito.
170 — O que se torna o Espírito após sua última encarnação?
— Um Espírito plenamente feliz; um Espírito puro.
Justiça da reencarnação
171 — Em que se fundamenta a doutrina da reencarnação?
— Na justiça de Deus e na revelação. Repetimos constantemente: um bom pai sempre deixa aberta a seus filhos a porta do arrependimento. A razão não mostra que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna aqueles que não tiveram, por circunstâncias alheias à sua vontade, a oportunidade de se aperfeiçoar? Todos os seres humanos não são filhos de Deus? Apenas entre os egoístas se encontram a injustiça, o ódio sem perdão e os castigos sem retorno.
Todos os Espíritos tendem à perfeição, e Deus lhes oferece os meios de alcançá-la por meio das provas da vida corporal. Sua justiça permite que realizem, em novas existências, aquilo que não puderam concluir em uma primeira experiência.
Deus não agiria com equidade nem com bondade se condenasse eternamente aqueles que encontraram obstáculos ao progresso, impostos pelo meio em que foram colocados, sem que isso dependesse de sua vontade. Se o destino do ser humano fosse decidido de forma definitiva após a morte, a balança da justiça divina não seria a mesma para todos, e não haveria imparcialidade.
A doutrina da reencarnação — que admite para o Espírito várias existências sucessivas — é a única compatível com a ideia de justiça de Deus em relação aos que se encontram em condição moral inferior. É também a única que explica o futuro e sustenta nossas esperanças, pois oferece os meios de reparar erros por meio de novas provas. A razão a indica, e os Espíritos a ensinam.
Aquele que tem consciência de suas próprias imperfeições encontra na reencarnação uma esperança consoladora. Crendo na justiça divina, não espera estar eternamente em condição inferior aos que mais avançaram. Ao mesmo tempo, essa inferioridade não o exclui definitivamente da felicidade suprema, pois novos esforços lhe permitirão alcançá-la.
Quem, ao final da vida, não lamenta ter adquirido tarde demais uma experiência da qual já não pode mais se beneficiar? Essa experiência, porém, não se perde: o Espírito a utilizará em uma nova existência.
Encarnação nos diferentes mundos
172 — Nossas diversas existências corporais ocorrem todas na Terra?
— Não. Vivemo-las em diferentes mundos. As existências que temos na Terra não são as primeiras nem as últimas, mas estão entre as mais materiais e mais distantes da perfeição.
173 — A cada nova existência a alma passa de um mundo para outro ou pode ter várias no mesmo globo?
— Pode viver várias vezes no mesmo mundo, se ainda não progrediu o suficiente para passar a outro superior.
— Podemos, então, voltar muitas vezes à Terra?
— Certamente.
— Podemos retornar à Terra depois de termos vivido em outros mundos?
— Sem dúvida. É possível que já tenham vivido em outros lugares antes de estarem aqui.
174 — Voltar a viver na Terra é uma necessidade?
— Não. Mas, se não progredirem, poderão ir para outro mundo que não seja melhor do que a Terra e que talvez seja até pior.
175 — Há alguma vantagem especial em voltar a habitar a Terra?
— Nenhuma vantagem específica, a menos que seja em missão. Nesse caso, progride-se aqui como em qualquer outro lugar.
— Não seria mais feliz permanecer apenas como Espírito?
— Não. Isso significaria estagnação, e o objetivo é avançar em direção a Deus.
176 — Espíritos que nunca viveram na Terra podem encarnar aqui?
— Sim, da mesma forma que vocês podem encarnar em outros mundos. Todos os mundos são solidários: o que não se realiza em um, realiza-se em outro.
— Existem, então, pessoas que estão na Terra pela primeira vez?
— Muitas, em diferentes graus de progresso.
— É possível reconhecer, por algum sinal, se um Espírito está encarnando na Terra pela primeira vez?
— Isso não teria utilidade alguma.
177 — Para alcançar a perfeição e a felicidade suprema, destino final de todos, o Espírito precisa passar por todos os mundos do universo?
— Não. Existem muitos mundos correspondentes a um mesmo grau de evolução. O Espírito, ao sair de um deles, nada aprenderia de novo em outro do mesmo nível.
— Como se explica, então, a pluralidade de existências em um mesmo mundo?
— A cada nova existência, o Espírito pode ocupar uma posição diferente, encontrando assim novas oportunidades de adquirir experiência.
178 — Os Espíritos podem encarnar em um mundo inferior àquele em que já viveram?
— Sim, quando se trata de uma missão, com o objetivo de auxiliar o progresso. Nesse caso, aceitam com alegria as dificuldades dessa existência, pois ela lhes oferece meios de avanço.
— Isso também pode ocorrer como forma de expiação? Deus pode enviar Espíritos rebeldes para mundos inferiores?
— Os Espíritos podem permanecer estacionários, mas não retrocedem. A punição do estacionamento é a necessidade de recomeçar, em condições compatíveis com sua natureza, as existências que foram mal aproveitadas.
— Quais Espíritos precisam recomeçar a mesma existência?
— Aqueles que fracassaram em suas missões ou provas.
179 — Todos os seres que habitam um mesmo mundo atingiram o mesmo grau de perfeição?
— Não. Em cada mundo ocorre o mesmo que na Terra: há Espíritos mais e menos adiantados.
180 — Ao passar de um planeta para outro, o Espírito conserva a inteligência que possuía?
— Sim. A inteligência não se perde. No entanto, ele pode não dispor dos mesmos meios para manifestá-la, conforme sua superioridade e as condições do corpo que assume.
(Ver: Influência do organismo, Capítulo 7.)
181 — Os seres que habitam diferentes mundos possuem corpos semelhantes aos nossos?
— É certo que possuem corpos, pois o Espírito precisa estar revestido de matéria para agir sobre a matéria. Esse envoltório, porém, é mais ou menos material conforme o grau de pureza alcançado pelo Espírito. É isso que determina a diferença entre os mundos que percorremos, pois há muitas moradas na casa do Pai, em diferentes níveis. Alguns têm consciência disso ainda na Terra; outros, não.
182 — É possível conhecer exatamente o estado físico e moral dos diferentes mundos?
— Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de desenvolvimento em que vocês se encontram. Isso significa que não devemos revelar essas coisas a todos, pois nem todos estariam preparados para compreendê-las, e tais revelações poderiam causar confusão.
À medida que o Espírito se purifica, o corpo que o reveste também se aproxima da natureza espiritual. A matéria torna-se menos densa; o ser deixa de arrastar-se penosamente sobre o solo; as necessidades físicas se tornam menos grosseiras, e já não é preciso que os seres vivos se destruam mutuamente para sobreviver. O Espírito se torna mais livre e passa a perceber coisas distantes que vocês ainda não conseguem captar. Ele vê com os olhos do corpo aquilo que vocês apenas vislumbram pelo pensamento.
Do aperfeiçoamento do Espírito decorre também o progresso moral dos seres que ele anima quando encarnado. As paixões instintivas se enfraquecem e o egoísmo dá lugar ao sentimento de fraternidade. É por isso que, nos mundos mais elevados que o de vocês, não existem guerras: não há ódio nem discórdia, porque ninguém pensa em prejudicar o outro. A intuição que seus habitantes têm do futuro, aliada à tranquilidade de uma consciência sem remorso, faz com que a morte não lhes cause temor. Eles a encaram serenamente, como uma simples transformação.
A duração da vida, nos diferentes mundos, parece guardar relação com o grau de superioridade física e moral de seus habitantes, o que é perfeitamente lógico. Quanto menos material é o corpo, menos sujeito está às vicissitudes que o desorganizam. Quanto mais puro é o Espírito, menos paixões o corroem. Essa também é uma forma de misericórdia divina, que assim reduz os sofrimentos.
183 — Ao passar de um mundo para outro, o Espírito atravessa novamente a infância?
— Em todos os lugares, a infância é uma fase necessária, mas nem sempre é tão limitada e lenta quanto no mundo de vocês.
184 — O Espírito pode escolher o mundo onde irá encarnar?
— Nem sempre. Ele pode pedir para ir a este ou àquele mundo e pode obter permissão, se o merecer, pois o acesso aos mundos depende do grau de elevação do Espírito.
— Se o Espírito não fizer nenhum pedido, o que determina o mundo em que ele reencarnará?
— O seu grau de evolução.
185 — O estado físico e moral dos seres é sempre o mesmo em cada mundo?
— Não. Os mundos também estão submetidos à lei do progresso. Todos começaram, como o de vocês, em estado inferior. A própria Terra passará por transformação semelhante e se tornará um paraíso quando os seres humanos se tornarem bons.
As raças que hoje habitam a Terra desaparecerão um dia, substituídas por seres cada vez mais aperfeiçoados. Novas raças transformadas sucederão às atuais, assim como estas sucederam a outras mais primitivas.
186 — Existem mundos onde o Espírito, deixando de usar corpos materiais, tenha apenas o perispírito como envoltório?
— Sim. E esse envoltório pode tornar-se tão etéreo que, para vocês, seria como se não existisse. Esse é o estado dos Espíritos puros.
— Isso significa que não há uma separação bem definida entre as últimas encarnações e o estado de Espírito puro?
— Exatamente. Essa diferença se apaga gradualmente e acaba se tornando imperceptível, como a transição da noite para o amanhecer.
187 — A substância do perispírito é a mesma em todos os mundos?
— Não. Ela é mais ou menos etérea. Ao passar de um mundo para outro, o Espírito se reveste da matéria própria desse novo ambiente, e essa mudança ocorre com extrema rapidez.
188 — Os Espíritos puros habitam mundos específicos ou permanecem no espaço universal, sem ligação com um mundo determinado?
— Habitam certos mundos, mas não ficam presos a eles como os seres humanos à Terra. Podem estar em toda parte com mais facilidade do que os outros.
(Observação: Segundo os Espíritos, a Terra é, entre os mundos do nosso sistema, um dos menos adiantados moral e fisicamente. Marte estaria ainda abaixo dela, enquanto Júpiter lhe seria muito superior. O Sol não seria um mundo habitado por seres corpóreos, mas um centro de reunião dos Espíritos superiores, que irradiam seus pensamentos para os outros mundos por meio do fluido universal.)
O tamanho dos planetas ou sua distância em relação ao Sol não determina seu grau de progresso. Vênus, ao que parece, é mais adiantado que a Terra, enquanto Saturno é inferior a Júpiter.
Espíritos que, na Terra, animaram personalidades conhecidas já disseram estar reencarnados em Júpiter, o que causa estranhamento, dado o alto grau desse mundo. Isso se explica porque podem ter cumprido missões específicas na Terra ou passado por existências intermediárias antes de chegar a lá. Além disso, mesmo em mundos mais avançados, há diferentes graus de desenvolvimento, assim como na Terra existe grande distância entre um selvagem e um homem instruído.
A contagem do tempo e as condições de longevidade também variam de um mundo para outro. Um Espírito afirmou estar encarnado há poucos meses em um mundo desconhecido por nós e declarou que, quanto à inteligência, já possuía ali o equivalente a trinta anos da vida terrestre. Isso não é absurdo, pois vemos na Terra animais atingirem pleno desenvolvimento em poucos meses. Nada impede que algo semelhante ocorra com o ser humano em outros mundos.
É um erro considerar o ser humano como modelo absoluto da criação ou imaginar que Deus nada mais poderia criar além do que conhecemos. Tal visão limita a própria ideia da Divindade.
Transmigrações progressivas
189 — Desde sua origem, o Espírito possui plenamente suas faculdades?
— Não. Assim como ocorre com o ser humano, o Espírito também passa por uma fase de infância. Em sua origem, sua vida é quase instintiva; ele mal tem consciência de si e de seus atos. A inteligência se desenvolve gradualmente.
190 — Qual é o estado da alma em sua primeira encarnação?
— O de infância na vida corporal. A inteligência começa apenas a despertar; a alma se prepara para a vida.
191 — As almas dos povos primitivos estão em estado de infância?
— De infância relativa; mas já são almas desenvolvidas, pois possuem paixões.
— As paixões indicam desenvolvimento?
— Sim, indicam desenvolvimento e consciência do eu, mas não perfeição. São sinais de atividade. Já na alma primitiva, a inteligência e a vida estão apenas em estado germinal.
A vida do Espírito passa pelas mesmas fases observadas na vida corporal: embrião, infância, maturidade. A diferença é que, para o Espírito, não existe decadência nem morte definitiva. Sua vida, que teve um começo, não terá fim. Do ponto de vista humano, ele leva um tempo imenso para passar da infância espiritual ao completo desenvolvimento. Esse progresso ocorre por meio de existências em diferentes mundos.
Assim como na vida humana há dias improdutivos, na vida espiritual existem encarnações que não trazem grande avanço, porque o Espírito não soube aproveitá-las.
192 — Pode alguém, vivendo de forma irrepreensível nesta vida, atingir todos os graus da perfeição e tornar-se Espírito puro sem passar por outras etapas?
— Não. Aquilo que o ser humano considera perfeição está muito distante da perfeição absoluta. Há qualidades que ele ainda não conhece nem compreende. Pode ser tão perfeito quanto sua natureza terrena permite, mas isso não equivale à perfeição suprema.
Assim como a criança precisa passar pela juventude antes de atingir a maturidade, e o doente pela convalescença antes de recuperar a saúde, o Espírito precisa progredir tanto em conhecimento quanto em moralidade. Se avançou apenas em um aspecto, precisa avançar no outro.
Quanto mais o ser humano progride nesta vida, menos longas e penosas serão as provas futuras.
— Pode o ser humano, já nesta vida, preparar uma existência futura menos difícil?
— Sem dúvida. Ele pode reduzir o caminho e suas dificuldades. Apenas o descuidado permanece sempre no mesmo ponto.
193 — Um Espírito pode, em nova existência, ocupar posição inferior à atual?
— Socialmente, sim; espiritualmente, não.
194 — A alma de um homem de bem pode animar, em nova encarnação, o corpo de um criminoso?
— Não, pois o Espírito não retrocede.
— A alma de um homem perverso pode tornar-se a de um homem de bem?
— Sim, se houver arrependimento. Isso constitui uma recompensa.
O progresso do Espírito é sempre ascendente, nunca regressivo. Ele pode ocupar posições sociais humildes, mas não perde o nível espiritual já alcançado. Assim, um poderoso pode renascer em condição modesta e um humilde pode renascer em posição elevada, pois entre os seres humanos as posições sociais não refletem necessariamente a elevação moral. Herodes foi rei; Jesus, carpinteiro.
195 — A possibilidade de melhorar em vidas futuras não incentiva alguns a persistirem no mal?
— Quem pensa assim, na verdade, não acredita em nada. Nem mesmo a ideia de um castigo eterno o conteria. Além disso, essa noção extrema conduz à incredulidade.
O Espírito imperfeito pode, durante a vida corporal, raciocinar dessa forma. Mas, ao se libertar da matéria, percebe rapidamente que fez um cálculo errado e leva sentimento oposto para a existência seguinte. É assim que ocorre o progresso.
A ideia de que as dificuldades da vida resultam das próprias imperfeições leva o ser humano a evitar o mal com mais eficácia do que a ameaça de um castigo eterno, no qual muitos sequer acreditam.
196 — Sendo as tribulações da vida corporal necessárias ao progresso, pode-se dizer que a vida material é um meio de purificação?
— Sim, exatamente. O Espírito se aperfeiçoa nessas provas, evitando o mal e praticando o bem. Somente após muitas encarnações sucessivas ele atinge o objetivo para o qual tende.
— É o corpo que influi sobre o Espírito ou o Espírito que influi sobre o corpo?
— O Espírito é tudo; o corpo é apenas uma veste que se desgasta.
O vinho oferece uma boa analogia: o álcool puro precisa passar por várias destilações para se livrar das impurezas. O corpo é como o alambique onde a alma entra para se purificar. O perispírito também se depura à medida que o Espírito se aproxima da perfeição.
Sorte das crianças após a morte
197 — O Espírito de uma criança que morreu cedo pode ser tão adiantado quanto o de um adulto?
— Muitas vezes, pode ser ainda mais adiantado, pois pode já ter vivido mais e adquirido maior experiência.
— Pode o Espírito de uma criança ser mais evoluído que o de seus pais?
— Isso acontece com frequência. Vocês não veem isso diariamente na Terra?
198 — O Espírito de uma criança que morreu cedo, não tendo praticado o mal, pertence a categorias superiores?
— Se não fez o mal, também não fez o bem. Deus não o isenta das provas necessárias. Se for puro, não será por ter habitado o corpo de uma criança, mas porque já havia progredido.
199 — Por que a vida muitas vezes se interrompe na infância?
— Porque a curta duração dessa vida pode completar uma existência anterior interrompida antes do tempo. Muitas vezes, a morte da criança é prova ou expiação para os pais.
— O que acontece com o Espírito de uma criança que morre cedo?
— Recomeça outra existência.
Se uma única existência decidisse o destino eterno, metade da humanidade — a que morre na infância — desfrutaria da felicidade sem mérito, enquanto a outra metade enfrentaria duras provas. Isso não seria justo.
A reencarnação estabelece igualdade para todos. Cada um é responsável por seus próprios atos. As diferenças morais observadas nas crianças — algumas revelando inclinações negativas desde cedo — não podem ser explicadas apenas pela educação. Elas resultam do grau de progresso do Espírito, que traz consigo tendências de vidas anteriores.
Assim, a justiça divina se aplica de forma igual a todos, e cada um colhe exatamente aquilo que semeou.
Sexo nos Espíritos
200 — Os Espíritos têm sexo?
— Não no sentido em que vocês entendem, pois o sexo depende do organismo. Entre os Espíritos há amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos.
201 — Em nova existência, o Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher, e vice-versa?
— Sim. São os mesmos Espíritos que animam homens e mulheres.
202 — Quando está no estado errante, o Espírito prefere encarnar como homem ou como mulher?
— Isso pouco lhe importa. O que orienta essa escolha são as provas que ele precisa enfrentar.
Os Espíritos encarnam ora como homens, ora como mulheres, porque não possuem sexo. Como precisam progredir em todos os aspectos, cada sexo — assim como cada posição social — oferece provas, deveres e experiências específicas. Quem encarnasse apenas como homem conheceria apenas a experiência masculina.
Parentesco e filiação
203 — Os pais transmitem aos filhos uma parte de suas almas ou apenas a vida animal, à qual outra alma vem se unir?
— Transmitem apenas a vida animal, pois a alma é indivisível. Um pai intelectualmente limitado pode ter filhos inteligentes, e o contrário também ocorre.
204 — Considerando que tivemos muitas existências, nossos laços de parentesco vão além desta vida atual?
— Necessariamente. A sucessão das existências corporais cria entre os Espíritos vínculos que remontam a vidas anteriores. Daí surgirem, muitas vezes, simpatias espontâneas entre vocês e Espíritos que lhes parecem estranhos.
205 — Algumas pessoas consideram que a reencarnação destrói os laços de família, ao torná-los anteriores à vida atual.
— Ela os amplia, não os destrói. Ao basear o parentesco em afeições anteriores, torna os laços familiares menos frágeis. Essa doutrina amplia os deveres da fraternidade, pois no vizinho ou no servidor pode estar um Espírito que já esteve ligado a você por laços de sangue em outra existência.
— Isso não diminui a importância atribuída à genealogia?
— Sim, pois essa importância geralmente se apoia no orgulho. Muitos se envergonhariam de descender de um antepassado humilde e, ao mesmo tempo, se orgulhariam de descender de um nobre devasso. Mas, gostem ou não, as leis da natureza não se moldam à vaidade humana.
206 — O fato de não haver filiação espiritual direta invalida o respeito aos antepassados?
— De forma alguma. É motivo de satisfação pertencer a uma família onde encarnaram Espíritos elevados. Embora os Espíritos não procedam uns dos outros, eles sentem afeição pelos laços familiares, pois frequentemente são atraídos por simpatias e vínculos anteriores. Contudo, os Espíritos dos antepassados não se honram com homenagens motivadas pelo orgulho, mas sim pelos esforços dos descendentes em seguir seus bons exemplos.
Semelhanças físicas e morais
207 — Os pais transmitem aos filhos apenas a semelhança física ou também a moral?
— Apenas a física, pois as almas são diferentes. O corpo deriva do corpo; o Espírito não procede do Espírito.
— De onde vêm, então, as semelhanças morais entre pais e filhos?
— Da afinidade entre Espíritos, que se atraem pela semelhança de inclinações.
208 — Os Espíritos dos pais exercem influência sobre os filhos após o nascimento?
— Exercem grande influência. Os Espíritos devem contribuir para o progresso uns dos outros. Os pais têm a missão de desenvolver moralmente seus filhos por meio da educação. Essa é uma responsabilidade. Falhar nela é uma falta.
209 — Por que pais bons e virtuosos às vezes têm filhos de natureza perversa?
— Um Espírito imperfeito pode pedir para nascer em uma família virtuosa, esperando beneficiar-se de seus conselhos. Muitas vezes, Deus concede esse pedido.
210 — Os pais, por pensamentos e preces, podem atrair um Espírito melhor para o corpo do filho?
— Não podem escolher o Espírito, mas podem ajudá-lo a melhorar. Esse é o dever deles. Filhos difíceis são provas para os pais.
211 — De onde vem a semelhança de caráter entre irmãos, especialmente gêmeos?
— São Espíritos simpáticos que se atraem pela afinidade de sentimentos.
212 — Nos gêmeos unidos fisicamente, há duas almas?
— Sim. São dois Espíritos distintos, embora muito semelhantes, o que pode dar a impressão de uma única alma.
213 — Se os Espíritos dos gêmeos encarnam por simpatia, como explicar a aversão que às vezes existe entre eles?
— Nem sempre são simpáticos. Espíritos imperfeitos também podem encarnar juntos para se confrontarem e aprenderem.
214 — O que pensar das histórias de crianças que lutam no ventre materno?
— São alegorias, usadas para representar ódios antigos e profundos, figurando-os como existentes antes do nascimento.
215 — De onde vem o caráter particular de cada povo?
— Os Espíritos também se agrupam por afinidade, formando grandes famílias espirituais. Um povo é o resultado da reunião de Espíritos com inclinações semelhantes. Daí surgem os traços comuns que caracterizam cada coletividade.
216 — O Espírito conserva, em novas existências, traços morais das anteriores?
— Pode conservar, mas ao melhorar, muda. A posição social pode ser diferente, o que dificulta reconhecê-lo. O Espírito é o mesmo, mas suas manifestações variam conforme as circunstâncias e o progresso alcançado.
217 — O Espírito conserva traços físicos de existências anteriores?
— O corpo atual não tem relação direta com o anterior. No entanto, o Espírito se reflete no corpo, moldando-lhe certos traços, especialmente no rosto. Por isso se diz que os olhos são o espelho da alma.
Não se deve concluir, a partir de semelhanças físicas fortuitas, que se trata do mesmo Espírito em existências sucessivas. Contudo, as qualidades morais frequentemente imprimem um caráter especial ao conjunto da aparência e dos modos, tornando reconhecível a elevação ou a inferioridade espiritual.
Ideias inatas
218 — Encarnado, o Espírito conserva vestígios de conhecimentos adquiridos em vidas anteriores?
— Conserva uma lembrança vaga, chamada de ideias inatas.
219 — Qual é a origem das aptidões extraordinárias de algumas pessoas?
— Lembranças do passado; progresso anterior do Espírito, embora inconsciente.
220 — Ao mudar de corpo, o Espírito pode perder certas faculdades intelectuais?
— Sim, se as tiver usado mal. Além disso, algumas faculdades podem permanecer latentes durante uma existência, para reaparecerem em outra.
221 — A intuição instintiva da existência de Deus e da vida futura tem origem em lembranças anteriores?
— Sim. É uma lembrança do estado espiritual anterior à encarnação, embora muitas vezes abafada pelo orgulho.
— As crenças espíritas difundidas entre todos os povos também têm essa origem?
— Sim. A doutrina espírita é tão antiga quanto a humanidade. A intuição do mundo espiritual sempre existiu, embora frequentemente deformada pela ignorância e pela superstição.